Fado de Coimbra

sábado, fevereiro 26, 2005

CHAMEM-LHE O QUE QUISEREM, MAS CRIEM-NO

Ou muito me engano, ou aquilo a que uns continuam a chamar “Fado de Coimbra”, outros rebaptizaram de “Canção de Coimbra” e outros ainda refundiram nas mais variadas formulações, vai simplesmente morrer de ... pasmo. Se antes não morrer de inanição, claro. O panorama musical coimbrão, no que respeita à velha arte estudantil, não passa de um contínuo marasmo revivalista, onde se sucedem, a preto e branco, todos os clichés que fizeram moda, ao gosto dos intervenientes. Algo semelhante a um lago de margens verdejantes e aprazíveis, mas onde a água está tão quieta que dela emana um cheiro levemente desagradável. Se apurássemos o olfacto, sentiríamos na verdade o odor pútrido de um cadáver em decomposição.

Salvo honrosas excepções, Coimbra deixou de ter criadores de canções, de poetas/letristas, de ser um alfobre de novas ideias, novas estéticas, novos desafios. Não me lembro já da última vez que ouvi um tema novo com inspiração coimbrã e os mais recentes são sobretudo produto de algumas “velhas glórias” que teimam em garantir que estão vivas. Não falarei dessas excepções, salvo para reforçar que são indesejáveis, que devem desaparecer, enquanto tais. A regra deve ser a criação, o desafio, o risco, a ousadia, a urgência. E pouco importa o nome do que surgir dos dedos e gargantas dos criadores. Chamem-lhe o que quiserem, mas criem-no.

Aníbal Moreira